O silêncio é uma dádiva quando não escolhido. Ficar em silêncio por não ter o que dizer, por não saber o que fazer ou simplesmente por não precisar falar é um dos maiores presentes que nos foi dado desde que o ser humano emitiu sua primeira sonorização. Mas e quando você tem o que falar? E quando o silêncio se torna uma escolha torturante e agonizante porque, em qualquer outra situação, você teria falado, mas dessa vez decidiu não dizer nada?
Existem muitos tipos de silêncio, mas aquele que escolhemos carregar é como um espinho cravado no pé, latejando a cada passo. É como se, todos os dias, você sentisse as palavras subindo pela garganta, mas as obrigasse a voltar para dentro, reprimindo-as com a ordem interna: "Não, agora não. Você não deve falar." Para mim, esse tipo de silêncio é quase um pleonasmo da vida adulta—o entendimento de que nem tudo merece uma resposta, mesmo que ela exista. Mas o que não nos ensinam é o que fazer com essa resposta não dita, com essas palavras entaladas, como um monstro debaixo da cama pronto para devorar você no meio da noite.
E então, me pergunto: ficar em silêncio é mesmo uma virtude humana? Escolher não responder é realmente sinônimo de paz? Se isso for paz, então o que vem depois da não resposta? O que vem depois daquele olhar cruzado na rua, carregado de significado, mas que você escolhe ignorar?
Dizem que "a melhor resposta é aquela que não se dá", e talvez quem cunhou essa frase estivesse exatamente nesse processo do silêncio—não no tormento da resposta reprimida, mas na digestão dela. Porque há palavras que, quando engolidas, não desaparecem; elas seguem um caminho interno, e quando finalmente saem, não é mais pela boca.
Minha avó sempre diz que "cara feia é fome", e eu acredito que há muita gente por aí de cara feia. Não de fome por palavras, mas por afeto. Afeto esse que nunca encontram e, por isso, descontam suas frustrações na primeira pessoa que veem pela frente. Que vida triste, não?
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