Crescemos e vivemos movidos pela ambição. Desde cedo, somos condicionados a "ser alguém na vida", a representar ou provar algo, como se nossa existência precisasse de um propósito justificável. Mas, no final, o que permanece além disso? Ontem, enquanto lia meu primeiro livro do ano, me deparei com uma reflexão que deu origem a este texto: "A vida é uma história que contam sobre nós, não uma história que escolhemos contar". E, pensando bem, é exatamente assim. Desde os livros de história até os grandes heróis do cinema, conhecemos apenas fragmentos, narrativas escolhidas por outros — verdadeiras ou não.
Isso me fez refletir sobre a nossa incessante busca em construir uma narrativa própria. Queremos marcar nosso nome, seja em um monumento ou na memória dos nossos amigos. Fugimos do esquecimento como quem foge de uma sombra que sempre nos persegue. Mas, e se o esquecimento for inevitável? E se, no fim, o que restar forem apenas fragmentos do que fomos, borrões de memórias que alguém decidiu preservar ou apagar?
Vivemos tentando criar a melhor versão de nós mesmos: os ângulos mais favoráveis, as conquistas mais brilhantes, as características mais admiráveis. Construímos uma grande estante para exibir nossas melhores façanhas. Dizemos que fazemos trabalho voluntário por amor ao próximo, mas, no fundo, buscamos algo mais. Queremos ser lembrados, queremos ser aqueles que "lembraram de alguém". E talvez essa seja a maior armadilha do ego humano: acreditar que controlamos as histórias que contarão sobre nós, que dominamos como os outros nos percebem.
Mas aqui está a verdade: não importa o quanto tentemos, as histórias que ficam não são inteiramente nossas. São pedaços moldados por outros, reinterpretados, reinventados. E, diante disso, surge a pergunta essencial: em vez de gastar nossa energia tentando ser inesquecíveis, não seria mais significativo viver intensamente o presente, ser verdadeiro no agora?
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