Tem dias em que a saudade bate de um jeito que não avisa. Vem silenciosa, quase tímida, como uma brisa que atravessa a fresta de uma janela esquecida aberta. Nessas horas, sinto falta da minha casa, não apenas do espaço físico, mas do abrigo emocional que ela representava. Sinto falta das paredes que se racharam, rachaduras que acompanhavam meu crescimento como cicatrizes, quase um mapa do meu próprio coração se partindo aos poucos. Sinto falta dos posters amassados dos artistas que fui descobrindo ao longo da vida, colados com fita dupla-face e sonhos. Eles eram mais do que decoração: eram um pedaço da minha identidade em construção. Cada imagem grudada na parede era um pequeno grito de quem eu queria ser, um fragmento da minha juventude se misturando ao reboco. Sinto falta, principalmente, do cheiro específico do café da minha avó em dias tristes. Era um aroma que não se confundia com nenhum outro, um perfume morno que tinha gosto de cuidado, de colo, de palavra certa no momento ex...