Mundo Poetizador

S abe aquela sensação de que alguém está sempre te observando? Tipo um Big Brother pessoal, onde as câmeras estão ligadas 24/7, mas a audiência sou só eu mesmo julgando cada passo que dou? Pois é. Minha mente tem um talento especial para transformar qualquer situação comum em um episódio de suspense psicológico. E não é só isso. Além de me sentir constantemente vigiado — como se cada palavra, gesto ou até pensamento estivesse sob escrutínio, eu ainda tenho o dom de sofrer por antecipação. É quase um superpoder. Antes mesmo de algo acontecer, minha mente já escreveu o roteiro completo do desastre. Um simples “preciso marcar uma reunião” vira um drama complexo: “E se eu gaguejar? E se parecer burro? E se eu perder o cliente, falir, ser despejado e acabar pior do que já estou?”. A ironia é que, quando finalmente acontece, nunca é tão ruim quanto eu imaginei. O que parecia um apocalipse vira um “ah, era só isso?”. Mas claro, o alívio dura pouco. Logo depois, uma nova preocupação surge e ...

— O álcool entorpece, né? — ele disse, girando o copo entre os dedos. — Acho que não. Ele só desacelera o pensamento — respondi, acompanhando o movimento do líquido âmbar no fundo do meu copo. Ele soltou um riso curto, daqueles que escapam mais pelo nariz do que pela boca. — E pensar cansa. — Cansa — concordei. O bar estava no auge do movimento. As cadeiras rangiam, o chão grudava um pouco, e os garçons já nem perguntavam se queríamos mais uma. Apenas traziam. — Quanto mais a gente cresce, mais entende os bêbados — ele continuou. — Não naquele clichê de que todo mundo tem uma história triste atrás do copo, mas porque, às vezes, é bom desligar um pouco. A vida cobra resposta demais. — E a cabeça nunca desliga — acrescentei, olhando diretamente para ele. — Exato. Ficamos em silêncio por um instante, apenas ouvindo o burburinho ao redor. Um casal discutia em voz baixa na mesa ao lado, enquanto um grupo de amigos gargalhava no canto. Cada um lidava com sua bagunça interna do jeito...

Para Platão, "Uma cidade em que seus habitantes duvidam da existência de seres superiores capazes de punir os ímpios será sempre vítima do caos moral." Com essa percepção, inicio minha análise sobre Ruptura ( Severance ), série da Apple TV+ que retorna para sua tão aguardada segunda temporada. Em Ruptura , somos apresentados a um universo inquietantemente parecido com o nosso, onde a Lumon Industries, uma empresa com uma cultura organizacional rígida e quase mística, se destaca. O diferencial, no entanto, está em um procedimento extremo: a ruptura . Certos funcionários passam por uma cirurgia que divide sua consciência em duas, criando uma separação absoluta entre o "eu profissional" e o "eu pessoal". O resultado? Uma existência onde o trabalhador dentro da empresa (o interno ) não tem memória alguma de sua vida fora dali, e vice-versa. Se você, assim como eu, já ouviu inúmeras vezes que devemos separar vida pessoal e profissional, essa premissa vai te a...